Ela não tem pontos turísticos óbvios como Paris e sua Torre Eiffel, Londres e seu Big Ben. Ela é única. Essa é só uma das muitas particularidades que a gente gosta em Berlim, a capital da Alemanha, uma cidade linda e completamente maluca, que tem diversos pontos de interesse, nenhum deles obrigatório e todos eles fundamentais.
Por que gostamos tanto do fato de uma cidade não ter um cartão postal óbvio? Porque, dentre muitas outras maneiras de lutar contra o turismo de massa, a nossa favorita é justamente dissolver o fluxo. Quanto mais famoso fica um ponto (a torre, o relógio, a Monalisa, aquela cabine de telefone específica), mais filas, mais selfies, mais empurra-empurra, mais degradação, mais chatice e menos sentido. A gente ama a ideia de dividir a atenção, e com ela o fluxo, entre milhares de pontinhos turísticos, e não apenas um. Mais ou menos assim: se cada um descobrir seus próprios pontos turísticos, em vez de ir no que alguém um dia definiu como ponto turístico, o turismo vai ficar muito mais gostoso de se viver.
Assim é Berlim: uma cidade que vai brotar através do seu olhar. Sem um só ponto obrigatório para tirar foto, mas sim diversos pontos famosos e fotogênicos, você escolhe qual pedacinho quer conhecer e certamente vai se surpreender. Tudo em Berlim ainda está aberto para ser descoberto. E a sua viagem vai depender apenas do que você vai querer ver nela.
Sim, toda cidade tem multifacetas, mas Berlim escancara cada uma e permite que você, seu sobrinho careta e sua avó descolada possam desfrutar da mesma cidade, vivenciando cidades diferentes numa mesma viagem! Foi mais ou menos o nosso caso. Visitamos Berlim duas vezes. A Fran foi para lá pela primeira vez em 2010, viajando com duas pessoas muito diferentes entre si: um primo bastante tradicional e uma amiga mais alternativa. Ela fez passeios diferentes com cada um e assim foi capaz de descobrir os extremos da cidade, do moderno shopping center à galeria de arte mais alternativa que ela viu na vida. A segunda visita fomos nós dois que fizemos, Fran e Julio, em 2016, casados. Passamos um fim de semana sossegado e muito divertido, visitando atrações curiosíssimas.
Se levarmos em consideração a história da cidade, essa impressão de cidade fragmentada faz todo o sentido. Talvez Berlim seja uma cidade que ainda está à procura de si mesma, depois de tanta história, tão cruel, tão complexa e tão recente. Só no século 20, a cidade encarou a Primeira Guerra e foi devastada por ela, a Segunda Guerra, que trouxe todos os horrores do nazismo e por fim, muito recentemente, toda a questão da Alemanha Comunista e do Muro de Berlim. Não se passa por tudo isso e sai do outro lado incólume.
É interessante ver que a cidade não nega seu passado, mas não criou um sistema de turismo gigante em cima de sua história complicada. As coisas mais turísticas que você encontra que relembram o passado são o Checkpoint Charlie (lugar onde era o ponto oficial para quem queria cruzar o Muro – lá você encontra figuras fantasiadas de oficiais da época e pode carimbar seu passaporte!) e lugares para alugar carros da Alemanha Oriental.
Exceto por um pulinho para ver o Checkpoint Charlie (ele é bem central na cidade, nem tem como não ir), não fizemos nenhuma dessas duas turistadas. Mas fizemos todo o resto! Quer um roteiro do que fazer em Berlim? Talvez aqui você não tenha um roteiro tradicional. Mas achamos legal dividir com vocês algumas ideias bacanas do que fazer, com base nas duas viagens que fizemos para Berlim, que valeram por várias. Seja você tradicional ou alternativo, esteja viajando em amigos ou em família, uma coisa é fato: sua experiência em Berlim não vai cair no esquecimento.
Em Berlim você pode fazer coisas como…
Um walking tour tradicional, com parada no Memorial aos Judeus Mortos da Europa. Foi em Berlim que ficamos conhecendo o sensacional Sandemans New Europe Tours, uma empresa que oferece tours gratuitos (na verdade, no esquema pague o quanto acha que vale) a pé por importantes cidades europeias. Geralmente os guias são jovens, super divertidos e animados. É uma excelente pedida para o primeiro dia de qualquer viagem, para que você possa se localizar e entender detalhes da cidade. O passeio leva por importantes pontos históricos e passa pelo Memorial aos Judeus Mortos da Europa. Essa obra de arte parece meio sem graça à primeira vista, mas experimente andar por dentro dela e perceber a sensação de opressão e melancolia que ela oferece.
Um walking tour alternativo, alternativo MESMO. Além dos passeios gratuitos, a Sandemans também oferece tours pagos, mais específicos e extremamente interessantes. Em Berlim, no ano de 2010, a Fran fez o tour de Cultura Alternativa e Arte de Rua, que durou o dia todo, com alguns trechos feitos a pé, outros de trem e metrô. Berlim é uma das cidades com a cultura urbana mais forte do mundo, repleta de grafites maravilhosos a cada esquina. Mas esse passeio não passa só por eles. Em 2010, passamos por estações de trem abandonadas, feiras livres em bairros de imigrantes (onde almoçamos) e pela Tacheles, um edifício em ruínas que já foi de tudo, hoje está fechado e naquela época era uma galeria de arte extremamente alternativa. Nível Berlim de alternatividade, o que quer dizer que se você é indie em São Paulo provavelmente vai se sentir o ser humano mais careta do mundo por lá. Porque ser alternativo em Berlim é outro nível, nível Dark Web. Um passeio para nunca mais esquecer, super recomendado para quem gosta de coisas diferentes, bizarras e insólitas.
Ir a um shopping! Pois bem, enquanto a Fran fazia o passeio alternativo acima, seu primo saiu para um lado completamente diferente da cidade: visitou os shoppings. Ao final do dia, foi muito engraçado ver a diferença das fotos de cada um. É isso aí: como toda grande capital, Berlim tem alguns shoppings bacanas para se passear e encontrar de tudo. Um dos pontos de compras mais famosos é o Sony Center, nem tanto por seu conteúdo, mas sim pela sua importância histórica. Não só ele, como vários dos prédios ao seu redor, todos do início de 2000, marcaram o reinício de Berlim, em uma zona antigamente destruída pelas guerras e pela divisão da cidade. O Sony Center abriga lojas, restaurantes, escritórios, espaços para eventos, cinemas Imax e um Legoland Discovery Centre, que nós não visitamos, mas numa próxima viagem iríamos, sem dúvida, para levar a Rebequinha.
Conhecer baladas diferentes… e acabar a noite em uma balada igualzinha a que você iria em São Paulo, porque você não é bravo o suficiente. Se você curtiu a ideia do walking tour alternativo acima, iria adorar o passeio que a Fran e sua amiga fizeram em 2010. Jovens e recém formadas, elas decidiram conhecer uma autêntica balada de Berlim… e não entenderam nada. A noite começou em um bar que só tocava música industrial – coisa que não estamos muito acostumados em baladas mais “comuns” por aqui no Brasil. Até aí, tudo bem. O que nos deixou confusas era que a balada não tinha pista de dança, apenas mesas com bancos. No entanto, a música era tão alta que você não conseguia conversar nas mesas. As pessoas ficavam sentadas pelas mesas, sem conversar, sozinhas, viajando na música. Vai ver não éramos tão descoladas quanto imaginávamos… e acabamos indo parar numa balada bem mais tradicional, que tocava exatamente a mesma playlist das baladinhas de fim dos anos 2000 que a gente frequentava em São Paulo na época. Ao final da balada, fomos convidadas para continuar a curtição em uma balada na Tacheles, mas não tivemos coragem. Sim, éramos jovens, mas bastante ajuizadas.
Comer um macarrão feito por você, com vista para a Alexanderplatz. Tá, essa dica é extremamente específica, mas mostra como dá para curtir de todos os jeitos. Em 2010, mesma viagem do passeio alternativérrimo, um dos programas foi caseiro: cozinhamos no quarto do hostel e curtimos o frio por lá. Na época, Airbnb não era uma opção tão famosa, e a Fran, primo e amiga ficaram hospedados em um quarto privado do Wombat City, com cozinha e tudo. A vista da varanda do quarto dava para a Berliner Fernsehturm, torre de TV que chama a atenção na cidade e se localiza em uma de suas principais praças.
Conhecer os museus. Berlim tem uma ilha inteira dedicada a museus, o que é a coisa mais linda do mundo. Mas se quiser ir além deles, que são mais clássicos, recomendamos um pulinho no DDR Museum. Muito curioso e interativo, esse museu dá uma ideia de como era a vida na Alemanha Comunista Oriental. Em 2010, era possível comprar produtos da época na lojinha do museu! Em 2016, ele estava um pouco menos divertido, mas continuava interessante.
Passar medo e se divertir na Dungeon Berlin. The Dungeons são passeios “de terror” espalhados por diversas cidades do mundo. Nosso primeiro contato com elas foi em Edimburgo, na Escócia e amamos. Mais uma atração de parque temático que um passeio sério, eles contam histórias obscuras das cidades, usando carrinhos, atores fantasiados e muita comédia. Misturando cultura a entretenimento e boas risadas, é bem o tipo de passeio que a gente ama fazer.
Ir a alguma exposição bizarra. Em 2016, encontramos uma exposição do Bosch, pintor famoso por suas obras que trazem o grotesco. Quando entramos na exposição, a surpresa: ela não tinha quadros. Era uma série de várias salas escuras com projeções das pinturas, ao som de uma música bem doida. A ideia central era você se sentar no chão e viajar no conteúdo. Top 10 experiências surreais que tivemos em viagens.
Jantar ao som de um open mic. Então fomos convidados para jantar no Kindl Stuben com nosso casal de amigos que mora em Berlim. Um restaurante bem peculiar (para nós, brasileiros, coisas como uma sala interna para fumantes, em vez de um ambiente aberto, é a coisa mais estranha do mundo) com uma comida bem gostosa. E uma atração à parte: aquela era a noite do open mic, uma noite em que artistas locais se apresentavam. Muita voz e violão e um apresentador muito engraçado segurou a gente um tempão lá, mesmo depois de terminar o jantar.
Ir ao Mercado de Natal. Estando por lá em dezembro, vale muito a pena entrar no clima natalino e ir até a feira de Natal da cidade. Comidas típicas, cheiro de vinho quente no ar e lindo artesanato local são só algumas das atrações deliciosas para as geladas noites natalinas berlinenses.
Passear pelas ruas e tomar uma cervejinha nos biergartens. Berlim também é linda. Se você quiser ir só para curtir as ruas e a luz, vá e curta o cenário. Ande pelo Landwehr Canal e pelo Rio Spree e cace um biergarten pra tomar uma cervejinha. O melhor: sem fila, especialmente no inverno.
Deu pra ter uma ideia da variedade de opções nessa cidade? Isso porque, somando as duas viagens, não passamos nem 10 dias nela! Para ir a fundo em Berlim, vale visitar o blog da Lígia Fascioni, que mora lá há alguns anos e sempre divide fotos maravilhosas e pensamentos interessantes sobre a cidade.
Espero que esse post inspire você a ter uma viagem sem fila e sem pontos imperdíveis. Porque como sempre dizemos: imperdível mesmo é se perder. Viajar é essa coisa incrível, não é? Uma mesma cidade pode ser mil, depende de quem a visita, ou mesmo da fase que você está vivendo na época da viagem. Você já viajou para a mesma cidade e teve a experiência de estar conhecendo infinitas cidades na mesma? Divide com a gente!
Berlin is one city that can be a thousand. One of the coolest things about it is that there isn’t one big attraction that summarizes the city like the Eiffel Tower in Paris or the Big Ben in London. It has many attractions and each person can make his or her list of “no to miss” places to go. We’ve visited Berlin in two very different occasions of our lives, and found cool places and things for everyone. In the list below you can see some things to do in Berlin, from the more traditional to the more alternative and fun.
PASSEIOS SEM FILA CITADOS NESSE POST
Sandemans New Europe Tours Berlim
Data da visita: novembro de 2010 e outubro de 2016
Tamanho da fila: é legal fazer uma reserva no site com antecedência
Site: www.neweuropetours.eu/berlin-walking-tours
Sony Center
Data da visita: novembro de 2010
Tamanho da fila: depende muito do que você vai fazer lá
Endereço: Potsdamer Straße, 4 – Berlim, Alemanha
Site: www.sonycenter.de
Wombat’s City Hostel
Data da visita: novembro de 2010
Endereço: Alte Schönhauser Straße, 2 – Berlim, Alemanha
Site: www.wombats-hostels.com
DDR Museum
Data da visita: novembro de 2010 e outubro de 2016
Tamanho da fila: vazio em dias de semana, cheio aos finais de semana
Endereço: Karl-Liebknecht-Straße, 1
Site: www.ddr-museum.de
The Berlin Dungeon
Data da visita: outubro de 2016
Tamanho da fila: tinha uma turminha, mas nada muito grave. Importante ficar atento aos horários – eles oferecem passeios em alemão e inglês em horários diferentes.
Endereço: Spandauer Straße, 2 – Berlim, Alemanha
Site: www.thedungeons.com/berlin
Kindl Stuben
Data da visita: outubro de 2016
Endereço: Sonnenallee 92, 12045 Berlin, Germany
Telefone: +49 30 54489722
Site: www.thedungeons.com/berlin
Quase todas as fotos desse post são nossas. Mas algumas (excelentes) são da Mirele Migliavacca, a tal da amiga que foi para Berlim com a Fran em 2010. 🙂